Quando uma família se prepara para receber o seu bebé há uma grande preocupação relacionada com o surgimento das primeiras palavras. Qual será a primeira palavra? Quando surgirá? Como decorrerá o futuro desenvolvimento de linguagem? Esta preocupação tende a surgir por volta dos 12 meses, altura em que é esperado que surjam as primeiras palavras. Muitos pais, questionam-se, então, sobre que brinquedos poderão usar para potenciar o desenvolvimento da sua linguagem.
E antes desta idade? O que acontece do ponto de vista comunicativo e linguístico?
De facto, muito antes de surgirem as primeiras palavras, o bebé já é capaz de comunicar, ainda que não fale! Antes de completar o primeiro ano, o bebé já comunica as suas necessidades de sono, higiene e alimentação, bem como as suas emoções através do sorriso, do choro, de vocalizações e expressões faciais.
No momento certo para si, para o bebé iniciar o seu processo de expressão de linguagem através da fala é importante que, durante o primeiro ano de vida, desenvolva competências de comunicação que lhe permitam um desenvolvimento pleno da linguagem e da fala.
Assim, talvez importe mudar o foco da nossa pergunta. Como posso, enquanto parceiro comunicativo, contribuir para o desenvolvimento da comunicação e da linguagem do bebé?
O sistema afetivo está na base da comunicação social, sendo na relação com o outro que a comunicação e a linguagem obtêm um significado. É na partilha do brincar, com ou sem brinquedos, em atividades estruturadas ou não, que o bebé desenvolve os alicerces da comunicação e da linguagem. É na relação com o outro que começa a usar o olhar com intenção e que o usa na partilha de objetos (alternar o olhar entre o cuidador e o objeto), que fica atento ao que o outro faz, ou diz, e tenta imitá-lo, e que usa vocalizações ou expressões faciais em resposta às iniciativas do adulto. A competência de estar atento ao adulto, alternando o foco do olhar entre este e o objeto, é fundamental para que a criança desenvolva uma linguagem funcional, surgindo e consolidando-se entre os 6 e os 9 meses e permitindo que, por volta dos 12 meses, comecem a surgir as primeiras palavras.
Retomando, então, a questão: Como posso, enquanto parceiro comunicativo, contribuir para o desenvolvimento da comunicação e da linguagem do bebé? Diria que: brincando, partilhando afeto, envolvendo-se! Os pais são os melhores brinquedos dos bebés, por isso, dê preferência a um brincar ativo, suportado pela relação, em detrimento do brincar passivo (uso de brinquedos digitais – ex: tablets).
De seguida partilharei consigo alguns exemplos de brincadeiras que podem ajudá-lo a criar este contexto de partilha, bem como aspetos transversais a todas as interações com a criança.
Durante as interações com a criança garanta que:
- segue a sua iniciativa e respeita os seus interesses, garantindo um maior envolvimento. As crianças fazem mais aquisições quando fazem algo que gostam. Deixe-a escolher quando, onde e como brincar;
- desce ao nível da criança, facilitando a manutenção do contacto ocular e o acesso às pistas visuais que expressamos com a face;
- comenta as suas ações e as ações da criança – legendar o que está a acontecer, permitirá à criança regular-se e estar disponível para o momento, favorecendo a aquisição de linguagem através dos modelos fornecidos;
- usa entoação melódica, que ajudará a criança a manter a atenção no que lhe diz. Facilitará o processamento do que ouve, contribuindo para o desenvolvimento da compreensão e expressão;
- usa expressões faciais exageradas, facilitando a associação do que diz ao estado emocional que pretende transmitir. Na verdade, a comunicação não serve apenas para a satisfação das necessidades de pedir e negar, mas sobretudo para a partilha de estados emocionais. Do mesmo modo, o uso de expressões faciais, ajudarão a manter a criança focada no adulto;
- espera pela resposta da criança às interações durante o brincar, (ex: olhar, vocalizações), dando-lhe oportunidade de ter iniciativa comunicativa e assumir o seu turno.
Atividades que pode fazer com o bebé:
-Menos brinquedos, mais relação – para um brincar efetivo, não temos que usar obrigatoriamente brinquedos. Brincadeiras sensoriomotoras como dançar com a criança ou fazer cócegas são ótimos convites ao seu envolvimento efetivo num momento repleto de contacto ocular, riso, expressões faciais, e movimento. Se interrompermos a brincadeira, neste caso a dança ou as cócegas, daremos a oportunidade ao bebé de pedir a continuação desta. O bebé aprende, então, sobre turnos comunicativos e como usar o seu para a satisfação das suas necessidades;
- Imitação – aumente a conexão com o bebé através da imitação. Imite as suas expressões faciais, aos seus gestos e as suas vocalizações, adicionando sempre mais sons e palavras, incentivando a novas produções;
- Jogos com movimento - balançar, andar no baloiço, escorregar, são atividades motoras que representam uma oportunidade para envolver as crianças pois tendem a ser muito apreciadas por elas. Nestes momentos as crianças estão a expostas a um ambiente linguístico repleto de conceitos de ação que serão mais facilmente acedidos pela criança;
- Bolas de sabão – as bolas de sabão são um excelente motivador da comunicação e interação, uma vez que facilmente captam a atenção das crianças. Neste jogo consegue usar inúmeras interjeições (“pop”, quando rebenta uma bola; “ah ouh”, quando a bola desaparece”), permite introduzir rotinas verbais como a contagem “1,2,3…vai”, incentivar o apontar, a experiência de turnos comunicativos, de contacto ocular e do pedir;
- Canções com movimentos/gestos que permitam a imitação vocal e motora – o ritmo das músicas e a repetição de padrões sonoros facilitam a aquisição de vocabulário e de padrões linguísticos de uma maneira divertida. Do mesmo modo, os gestos auxiliam o bebé a compreender a linguagem e a criarem rótulos verbais, para além de que damos a oportunidade de a criança participar mais eficazmente, uma vez que a imitação motora antecede a imitação verbal;
- Instrumentos Musicais – brincar com instrumentos, ou objetos que permitam a emissão de som (prato e talheres), fornece muitas oportunidades à criança, sobretudo no que se refere à atenção e à partilha de um momento comunicativo. O manuseio destes objetos permite cativar e manter a atenção da criança devido ao estímulo sonoro, dando-lhe a oportunidade de imitar em simultâneo, ou em turnos diferentes, e de solicitar que o adulto continue através do olhar, gesto ou palavra;
- Livros – estudos demonstram que crianças a quem são lidos livros de forma regular tendem a apresentar melhores competências de compreensão de linguagem e mais vocabulário. A exploração de livros é um momento que permite a conexão entre a criança e o cuidador, permitindo que o bebé esteja imerso num contexto linguístico rico suportado por imagens, por isso aponte frequentemente para as imagens para que a criança associe as palavras ouvidas a um referente. Quando a criança apontar, legende o que ela está a ver.
Leia o mesmo livro mais do que uma vez! Ajudará o bebé a envolver-se afetivamente com o livro, aumentando o seu interesse e contribuindo para aquisições significativas. Reler contribui também para a construção de confiança, uma vez que a familiaridade com a história lhe permitirá, pouco a pouco, participar na sua exploração.
Em crianças pequenas prefira livros com poucos parágrafos, mas com ilustrações apelativas;
- Rotinas – use estes momentos para promover o desenvolvimento da comunicação e da linguagem. As rotinas são excelentes oportunidades uma vez que acontecem de forma repetitiva e organizada na vida da criança e que não acarretam uma mudança na vida dos cuidadores, permitindo que a agenda aconteça de forma tranquila. Deixo-lhe alguns exemplos de como usufruir das rotinas:
Vestir e despir: forneça oportunidades de escolha sobre o que vestir; nomeie a roupa; faça solicitações simples “calça as meias”;
Hora do banho: nomeie partes do corpo e conceitos associados ao banho (champô, toalha, quente/frio, seco/molhado); descreva as ações do adulto e da criança; faça solicitações simples “lava o pé”;
Hora da refeição: é importante que a hora da refeição da criança seja a mesma que a dos pais, pois ela aprende através da observação; permita à criança participar na disposição da mesa conversando com ela sobre o que estão a fazer e fornecendo rótulos acerca dos objetos que utilizam (copo, prato, colher, garfo); nomeie a categoria dos alimentos (frutas, legumes, doces); descreva o aspeto, cheiro e sabor dos alimentos; permita à criança a exploração dos alimentos com as mãos/corpo, recrutando todos os sentidos e potenciando momentos significativos que facilitarão a aquisição e vocabulário.
Conectem-se e brinquem muito!
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